Como estimular crianças autistas em suas potencialidades

As crianças diagnosticadas com autismo precisam ser acompanhadas por pessoas que irão estimular o seu desenvolvimento nas áreas em que demonstram algum tipo de necessidade de suporte. Além disso, também precisam de um incentivo equilibrado nas áreas em que já se desempenham muito bem. É por este motivo que quero falar aqui sobre como estimular crianças autistas em suas potencialidades.

Nós sabemos que cada pessoa é única e possui suas próprias potencialidades, ou seja, uma capacidade de realização específica para determinados assuntos. Entre alguns exemplos, podemos pensar que uns cantam muito bem, outros desenham, outros cozinham e assim por diante.

Já, quando pensamos em crianças autistas, percebo que existe uma certa tendência em colocar essas crianças em uma “caixinha de características específicas”, por se tratar de uma situação atípica. Mas a verdade é que o autismo faz parte de um espectro e “espectro” é uma palavra que significa uma ampla gama ou uma variedade de coisas diferentes. Ou seja, cada criança com diagnóstico de autismo manifesta características diferentes, portanto, possui necessidades de suporte diferentes e habilidades diferentes.

Estimular crianças autistas com terapia ocupacional

O terapeuta ocupacional deverá auxiliar a criança e a família em suas atividades de ocupação no dia a dia, como comer, brincar, vestir. Mas antes de mergulhar nas estratégias práticas, é fundamental compreender as potencialidades únicas de cada criança autista. Cada indivíduo traz consigo uma gama única de habilidades, interesses e modos de processar informações. Observar e interagir com a criança de forma integral é o primeiro passo para descobrir suas potencialidades. Veja como essas ações são realizadas:

Observação atenta:

  • Iniciamos as sessões de terapia ocupacional com uma observação atenta do comportamento da criança;
  • Observamos as preferências sensoriais, como resposta a estímulos visuais, táteis ou auditivos;
  • Notamos as atividades que parecem cativar a atenção da criança e aquelas que desencadeiam ansiedade.

Entrevistas com pais ou responsáveis:

  • Conversamos detalhadamente, terapeuta e família, para entender as experiências da criança fora do ambiente terapêutico;
  • Descobrimos atividades que a criança gosta de fazer em casa e quais são os desafios enfrentados.

Estratégias de estimulação baseadas nas potencialidades

Com uma compreensão mais profunda das potencialidades da criança autista, é possível incorporar estratégias específicas para promover o desenvolvimento. Cada estratégia deve ser adaptada para atender às necessidades individuais da criança. A partir das primeiras análises, podemos seguir com as ações:

Integração Sensorial:

  • Projetamos atividades que estimulem as preferências sensoriais da criança. Se ela responde bem a estímulos táteis, exploramos texturas variadas em atividades;
  • Criamos ambientes controlados para minimizar estímulos aversivos e maximizar aqueles que trazem conforto.

Atividades Baseadas em Interesses:

  • Utilizamos os interesses específicos da criança como ponto de partida. Se ela tem uma paixão por determinados temas, incorporamos esses temas nas atividades;
  • Transformamos as atividades terapêuticas em experiências envolventes e relevantes, mantendo a criança motivada.

Abordagem Gradual a Novos Desafios:

  • Introduzimos gradualmente novos desafios, respeitando o ritmo da criança;
  • Utilizamos a técnica de “encadeamento avançado”, que envolve a sequencialização de tarefas complexas em passos menores, facilitando a aprendizagem progressiva.

Comunicação Visual:

  • Para crianças autistas que respondem bem à comunicação visual, utilizamos quadros visuais e cartões de comunicação;
  • Incorporamos elementos visuais nas rotinas diárias para ajudar a criança a entender e antecipar eventos.

Jogos e Atividades Sociais Estruturadas:

  • Desenvolvemos jogos e atividades sociais estruturadas que incentivam a interação social, respeitando as preferências da criança;
  • Incentivamos a comunicação por meio de jogos que envolvam turnos, compartilhamento e colaboração.

Estimular crianças autistas entre a família

Além de te explicar como acontece o processo de avaliação das estratégias de estímulos, a partir das potencialidades da criança, quero te dizer como a família pode atuar, utilizando esse mesmo ponto de vista. O envolvimento dos pais é fundamental para estender os benefícios da terapia ocupacional além do ambiente clínico. Veja como podemos construir juntos essa estratégia:

Sessões de Observação e Feedback:

  • Realizamos sessões de observação em que os pais possam participar e aprender com as estratégias utilizadas durante a terapia;
  • Conversamos sobre um feedback construtivo e posso sugerir atividades para serem incorporadas em casa.

Desenvolvimento de Rotinas Consistentes:

  • Colaboro com os pais na criação de rotinas consistentes em casa, alinhadas com as estratégias utilizadas na terapia ocupacional.
  • Forneço referências e ideias de recursos visuais para apoiar as transições e atividades diárias.


Com essas informações e trocas que podemos desenvolver, é possível que a família saiba lidar em casa e estimular crianças autistas, dando a oportunidade de terem mais experiências naquilo em que possuem habilidades. Mas atenção, para que isso ocorra de maneira equilibrada, a criança deve ser incentivada sem que se torne uma obsessão ou sentimento de que a criança está se tornando um “gênio” naquele assunto, pois isso poderá trazer mais sofrimento do que bem-estar. Ou seja, incentive as potencialidades, mas não abra mão das obrigações da rotina como tomar banho, comer, estudar, brincar com outras coisas.

Eu sempre digo que ninguém conhece a criança melhor do que a família, portanto, traçar essas estratégias observando o que será mais adequado para o seu filho, unindo o conhecimento técnico dos profissionais da saúde, é valoroso demais. Compartilho aqui esse vídeo complementar ao assunto.

Como estimular sua criança em casa

Avaliação e ajustes contínuos

Nós analisamos, traçamos estratégias, aplicamos, porém é necessário continuar avaliando o resultado de cada estratégia adotada. A avaliação contínua é fundamental para determinar a eficácia das estratégias implementadas. Inclusive, precisamos estar preparados para ajustar as abordagens com base nas respostas da criança, família e daquilo que eu mesma observo. Para que isso aconteça, realizo:

Registro de Progresso: Mantenho registros detalhados do progresso da criança em relação às metas estabelecidas; Identifico áreas de melhoria e ajusto as estratégias conforme necessário.

Reavaliação Periódica: Realizo reavaliações periódicas para garantir que as atividades propostas continuem desafiadoras, porém acessíveis. Estou aberta a modificar o plano de tratamento à medida que as potencialidades e necessidades da criança evoluem.

Aqui você pôde compreender como o trabalho acontece, de maneira bem resumida, é claro, pois existem as particularidades de cada paciente. No entanto, observe que devemos sempre estar atentos às potencialidades demonstradas por cada criança. O seu filho poderá se comunicar, desenvolver autonomia, ler, brincar, desde que as características dele sejam observadas, acompanhadas e estimuladas. Com uma abordagem baseada na compreensão das suas potencialidades individuais, é possível criar intervenções terapêuticas eficazes e personalizadas. Ainda, a colaboração com pais e cuidadores, aliada à avaliação contínua, amplifica o impacto positivo da terapia ocupacional na jornada de desenvolvimento de crianças autistas.

Ao final, compreendemos juntos que ao estimular crianças autistas a partir de suas potencialidades, estaremos promovendo qualidade de vida a elas.

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Beatriz Bell – Terapeuta Ocupacional © Todos os Direitos Reservados 2023.

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