O desfralde é um dos grandes desafios da primeira infância, representando um marco importante no desenvolvimento infantil. Esse processo, que chamamos de marcos do desenvolvimento infantil, envolve habilidades e comportamentos esperados em determinadas idades, conforme a criança cresce. Os marcos do desenvolvimento ajudam a acompanhar o progresso físico, cognitivo, social e emocional, e o desfralde, geralmente por volta dos 3 anos, é um desses momentos importantes na jornada de crescimento da criança.
O processo de desfralde pode vir acompanhado de desafios e dúvidas, tanto para as crianças quanto para os pais, especialmente em casos de crianças com diagnósticos.
Nesse contexto, a Terapia Ocupacional (TO) infantil pode ser uma ferramenta essencial para ajudar no desenvolvimento das atividades de vida diária, como o controle esfincteriano, que é a capacidade de segurar e liberar urina e fezes voluntariamente – essencial no processo de desfralde – promovendo uma transição mais suave e positiva para a criança.
Por aqui, quero falar com pais e mães e explicar como a Terapia Ocupacional Infantil pode apoiar o processo de desfralde infantil, abordando estratégias práticas e intervenções terapêuticas que podem ser usadas no dia a dia. Com mais de 10 anos de experiência na área, vejo a importância de compreender as necessidades individuais de cada criança e oferecer suporte às famílias durante essa fase.
Acompanhe e descubra como podemos, juntos, facilitar o desfralde com menos frustração e mais sucesso.
Qual a hora correta e como realizar o desfralde?
Desfralde é Mais do que Simplesmente Usar o Banheiro
Antes de falar sobre as estratégias, é importante entender que o desfralde não é apenas o ato de deixar as fraldas e começar a usar o penico ou o vaso sanitário. Ele envolve uma série de habilidades motoras, cognitivas e emocionais que precisam ser desenvolvidas e refinadas ao longo do tempo. Algumas dessas habilidades incluem:
Consciência corporal: A criança precisa identificar os sinais de seu corpo que indicam a necessidade de urinar ou evacuar.
Coordenação motora: Ela deve ser capaz de realizar movimentos como saltar com as duas pernas, e se apoiar com as duas mãos.
Controle emocional: O desfralde pode ser emocionalmente exigente, especialmente se a criança sentir medo ou insegurança em relação ao processo.
Sequenciamento e rotina: A criança deve entender a sequência dos passos: perceber a necessidade, ir ao banheiro, fazer suas necessidades, limpar-se e lavar as mãos.
Cada uma dessas habilidades é fundamental para o desenvolvimento das atividades de vida diária, que envolvem a realização de tarefas cotidianas com independência, como higiene, alimentação e organização. Um terapeuta ocupacional infantil pode facilitar esse processo, adotando uma abordagem integral para garantir que a criança esteja preparada, tanto física quanto emocionalmente, para essa transição.
O Papel da Terapia Ocupacional no Desfralde
A Terapia Ocupacional Infantil foca em promover a independência da criança em suas atividades cotidianas, incluindo o desfralde. Essa independência é fundamental para o desenvolvimento da autoconfiança e do autocuidado. Como terapeuta ocupacional, utilizo uma abordagem individualizada para entender quais são as barreiras que estão dificultando o processo de desfralde, junto com a família e, assim, criar um plano de intervenção personalizado.
Aqui estão algumas maneiras pelas quais a Terapia Ocupacional Infantil pode ajudar:
Avaliação do Desenvolvimento Global
Uma das primeiras etapas do processo de intervenção é avaliar o desenvolvimento global da criança. Isso inclui examinar suas habilidades motoras, cognitivas e emocionais. Cada criança é única, e considerar esse aspecto fará toda a diferença. Por exemplo, uma criança com dificuldades motoras finas pode ter problemas para abaixar ou levantar suas roupas. Já outra pode apresentar dificuldades sensoriais, o que pode levar a desconforto ou resistência ao uso do penico ou vaso.
Entender esses aspectos é essencial para traçar um plano adequado.
Intervenção Focada nas Necessidades Individuais
Após a avaliação, o terapeuta ocupacional elabora um plano de intervenção baseado nas necessidades individuais da criança. Essa intervenção pode incluir:
- Treino motor: Focando no desenvolvimento da coordenação motora necessária para realizar movimentos como saltar com as duas pernas, e se apoiar com as duas mãos, sentar-se no penico e manter o equilíbrio durante o processo.
- Habilidades de sequenciamento: Ajudar a criança a entender e praticar a sequência das etapas do desfralde de forma lúdica, como através de histórias ou jogos que mostrem a rotina de usar o banheiro – primeiro perceber a necessidade, ir ao banheiro, fazer suas necessidades, limpar-se e lavar as mãos.
- Regulação sensorial: Algumas crianças têm hipersensibilidade a certos estímulos, como o toque das roupas ou a sensação do penico. Nesse caso, a Terapia Ocupacional pode incluir atividades sensoriais que ajudam a criança a se familiarizar e aceitar esses estímulos de forma gradual.
Estabelecimento de Rotinas Estruturadas
Uma rotina bem estruturada é essencial para o sucesso do desfralde. Crianças pequenas se beneficiam muito da previsibilidade, e quando sabem o que esperar, ficam mais seguras e confortáveis. A Terapia Ocupacional pode ajudar os pais a estabelecer uma rotina consistente e adaptada ao ritmo de cada criança.
Essa rotina pode incluir momentos específicos para ir ao banheiro, como após as refeições ou antes de dormir, além de manter um ambiente calmo e previsível que incentive a criança a associar esses momentos com a ida ao banheiro.
Apoio Emocional e Motivacional
O desfralde pode ser uma experiência emocionalmente desafiadora, tanto para a criança quanto para os pais. Medo, frustração e ansiedade são sentimentos comuns que podem surgir durante esse processo. A Terapia Ocupacional, com seu enfoque integral, trabalha não apenas com as habilidades físicas da criança, mas também com suas emoções.
Por exemplo, algumas crianças podem sentir medo de “perder” algo quando veem as fezes indo embora no vaso, ou podem se sentir desconfortáveis com a ideia de fazer suas necessidades fora da fralda, que lhes oferece uma sensação de segurança. Nessas situações, o terapeuta pode usar estratégias como reforço positivo, jogos lúdicos e técnicas de relaxamento para ajudar a criança a lidar com esses sentimentos.
O que você não pode deixar de dizer ao seu Terapeuta Ocupacional, durante a sessão
Penico ou Vaso Sanitário?
A rigidez comportamental em crianças com diagnósticos, como autismo ou transtornos do desenvolvimento, pode tornar o processo de desfralde desafiador, especialmente na transição do uso de penicos para vasos sanitários. Essas crianças costumam preferir rotinas previsíveis e podem resistir a mudanças, o que pode gerar ansiedade ao se depararem com um ambiente ou objeto novo.
Nesses casos, é fundamental adotar uma abordagem personalizada. Pode-se optar por uma transição gradual, familiarizando a criança com o vaso sanitário antes de abandonar o penico e introduzindo mudanças de forma lenta e consistente, respeitando seu tempo de adaptação. Alternativamente, o uso direto do vaso sanitário pode ser mais eficaz, evitando assim uma transição dupla do penico para o vaso. Por isso, é crucial avaliar o comportamento individual de cada criança para determinar a melhor estratégia.
Utilize a aproximação sucessiva, ou seja, mostre o vaso sanitário, explique que aquele ambiente é seguro e de que a criança está sendo apoiada neste processo. O medo, ameaça ou colocar a criança sentada no vaso a força, poderá gerar uma experiência traumática atrapalhando o processo e até mesmo o vínculo dessa criança com o adulto responsável – ensinar exige paciência, compreensão e respeito pelas particularidades específicas da infância.
Envolvimento dos Pais e Educação Familiar
A Terapia Ocupacional valoriza o envolvimento ativo dos pais no processo de desfralde. Afinal, os pais são os principais facilitadores e apoiadores da criança em casa. Por isso, parte do nosso trabalho é fornecer orientação e educar os pais sobre como promover o desfralde de maneira respeitosa e sem pressa.
Isso inclui dicas práticas sobre como criar um ambiente propício para o uso do penico, como lidar com possíveis retrocessos e como usar reforços positivos para incentivar a criança. Também abordamos como reconhecer sinais de que a criança está pronta para começar o desfralde e como ajustar expectativas realistas, considerando o ritmo individual.
Um Trabalho em Equipe
O processo de desfralde exige uma abordagem colaborativa entre a família, a escola e os profissionais da infância que atendem a criança, como terapeutas ocupacionais, psicólogos e professores.
Essa equipe deve permitir que as estratégias aplicadas em casa sejam consistentes com as práticas adotadas na escola ou em outros ambientes. Portanto, a comunicação aberta entre todos é fundamental para criar uma rotina estável e previsível para a criança, além de adaptar o processo às suas necessidades individuais.
Professores e cuidadores podem observar comportamentos, identificar sinais de prontidão ou dificuldade, e fornecer apoio emocional, enquanto profissionais especializados ajudam a planejar intervenções específicas, garantindo um ambiente seguro e acolhedor para o sucesso no desfralde.
Sinais de que seu Filho Pode Estar Pronto para o Desfralde
Um dos primeiros passos para o sucesso do desfralde é reconhecer os sinais de prontidão da criança. Alguns desses sinais incluem:
- A criança permanece seca por períodos mais longos durante o dia.
- Criança que se isola em um canto no momento de fazer o cocô.
- Criança que se incomoda com fralda suja.
- Criança que identifica as partes do corpo e sabe apontar os sinais de que está prestes a fazer xixi ou cocô.
- Ela começa a demonstrar interesse em usar o banheiro, como observar os pais ou imitar comportamentos.
- Há uma capacidade de seguir instruções simples e uma maior independência em atividades como vestir e despir-se.
Se seu filho apresenta esses sinais, pode ser o momento certo para começar o processo de desfralde. No entanto, lembre-se de que cada criança é única, portanto, considere essa observação de acordo com a maneira como a sua criança se comunica.
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Desafios Comuns Durante o Desfralde
O desfralde nem sempre acontece sem dificuldades. Alguns desafios comuns incluem:
Resistência a usar o penico ou vaso sanitário: Crianças podem resistir à mudança por medo do desconhecido. A Terapia Ocupacional pode ajudar com estratégias de dessensibilização sensorial e jogos que tornam o penico mais familiar e divertido.
Retrocessos no processo: Às vezes, a criança pode regredir, especialmente em momentos de estresse ou grandes mudanças, como o nascimento de um irmão. A orientação do terapeuta pode ser essencial para ajudar os pais a lidar com esses momentos sem aumentar a ansiedade da criança.
Problemas de constipação: Crianças podem evitar o uso do banheiro se estiverem com dor ao evacuar. Nesse caso, o terapeuta ocupacional pode colaborar com outros profissionais de saúde para garantir que a criança receba o tratamento adequado.
Conflitos emocionais e traumas: Durante o processo de desfralde, muitas crianças podem enfrentar dificuldades emocionais como medo, ansiedade ou insegurança, especialmente ao lidar com a transição de um ambiente familiar (como o uso de fraldas) para uma nova rotina. Essas emoções podem se manifestar em resistência ao uso do banheiro, episódios de regressão ou estresse ao não conseguirem controlar o próprio corpo. Em alguns casos, a frustração associada ao não atendimento às expectativas dos pais ou cuidadores pode agravar esses sentimentos. Nessas situações, a intervenção de um psicólogo infantil pode ser necessária para ajudar a criança a lidar com essas emoções, promovendo segurança e bem-estar emocional durante o processo de desfralde.
Integração Sensorial e Insegurança Gravitacional: Algumas crianças podem apresentar dificuldades relacionadas à integração sensorial, e uma delas é a insegurança gravitacional. Crianças com essa condição sentem-se desconfortáveis ou com medo ao perceberem que seus pés estão suspensos e sem apoio, o que pode acontecer ao sentarem-se no vaso sanitário. Esse medo pode gerar resistência ao uso do vaso, mesmo que a criança esteja fisicamente pronta para o desfralde. Nesses casos, é importante que os pais e terapeutas ocupacionais proporcionem apoio sensorial adequado, como usar um banquinho para dar suporte aos pés ou preferir o uso do penico no início, para que a criança se sinta mais segura e confortável durante o processo.
A Terapia Ocupacional como Apoio no Desfralde Infantil
O processo de desfralde pode ser desafiador, mas com o suporte adequado, ele pode se tornar uma experiência de aprendizado e crescimento tanto para a criança quanto para os pais.
A Terapia Ocupacional infantil oferece uma abordagem individualizada, centrada na criança e em suas necessidades específicas, com o objetivo de promover independência, autoconfiança e sucesso nas atividades de vida diária.
Se você está começando o desfralde do seu filho ou enfrentando dificuldades, não hesite em procurar a ajuda de um terapeuta ocupacional infantil. Com o apoio profissional adequado, o desfralde pode se tornar uma etapa mais tranquila, segura e respeitosa.
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Terapia Ocupacional e a Escola