Quando se trata de compreender as complexidades do autismo, muitos pais se deparam com uma série de desafios e questões. Uma dessas questões que pode surgir é a relação entre o autismo e a epilepsia. Enquanto cada uma dessas condições é distinta por si só, ou seja, a epilepsia possui suas particularidades assim como o autismo, há uma sobreposição significativa entre autismo e epilepsia que merece atenção e compreensão.
O que é autismo?
O autismo, também conhecido como Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), é uma condição neurológica complexa que afeta o desenvolvimento e a interação social. As crianças com autismo podem exibir uma ampla gama de sintomas, desde dificuldades na comunicação e interação social até comportamentos repetitivos e interesses restritos.
Embora as causas exatas do autismo ainda sejam desconhecidas, sabe-se que uma combinação de fatores genéticos e ambientais desempenha um papel importante em seu desenvolvimento. O diagnóstico precoce e a intervenção adequada são essenciais para ajudar as crianças com autismo a alcançar seu pleno potencial.
Segundo a Associação Brasileira de Autismo, muitas vezes são diagnosticadas debilidades associadas ao diagnóstico do autismo, tais como: convulsões, epilepsia, crises de ansiedade, depressão, hiperatividade e agressividade.
Mas essa avaliação é peculiar a cada pessoa, e cada pessoa desenvolverá ou não, as especificidades do autismo e condições associadas, podendo ocorrer em níveis diferentes.
Entenda como e por quem o diagnóstico deve ser realizado
O que é epilepsia?
Por outro lado, a epilepsia é um distúrbio neurológico caracterizado por convulsões recorrentes. Essas convulsões são causadas por atividade elétrica anormal no cérebro, que pode levar a episódios de perda de consciência, movimentos involuntários e alterações sensoriais.
Fazendo aqui uma ilustração, imagine que nosso cérebro é como um computador. Esse computador nos ajuda a fazer coisas incríveis, como pensar e sentir emoções. Às vezes, em algumas pessoas, esse computador pode ter pequenos desvios de formação que fazem com que ele se comporte de maneira diferente, é como se houvesse uma espécie de “curto-circuito” no cérebro.
Quando alguém tem epilepsia, esses “curtos-circuitos” podem fazer com que a pessoa tenha convulsões. Essas convulsões são movimentos e expressões que o corpo faz involuntariamente. A pessoa pode cair no chão, mexer os braços e pernas ou até mesmo parecer confusa.
As convulsões não são algo que a pessoa pode controlar, assim como não pode controlar um espirro ou um soluço.
Assim como no autismo, a epilepsia pode ter várias causas, incluindo predisposição genética, lesões cerebrais, infecções e distúrbios metabólicos. O tratamento da epilepsia geralmente envolve medicação antiepiléptica, embora em alguns casos, cirurgia ou outras intervenções possam ser necessárias.
A relação entre autismo e epilepsia
“É interessante observar que desde a primeira descrição de Kanner, em 1943, a associação entre transtorno do espectro autista e epilepsia já havia sido descrita. Aproximadamente 30% das crianças com autismo desenvolvem crises epilépticas ou alterações eletroence- falográficas sem, no entanto, apresentar patologia de base específica, permanecendo indefinido se as crises epilépticas ou as alterações encontradas são causa ou comorbidade.”, fonte Scielo (Autismo e epilepsia: modelos e mecanismos – UNICAMP)
Embora o autismo e a epilepsia sejam condições distintas, estudos mostraram uma associação significativa entre elas. De fato, estima-se que até um terço das crianças com autismo também tenham epilepsia. Essa relação complexa levanta várias questões importantes para os pais e profissionais de saúde:
Fatores de risco comuns: Pesquisas sugerem que certos fatores de risco genéticos e neurobiológicos podem contribuir tanto para o autismo quanto para a epilepsia. Isso inclui anormalidades no desenvolvimento do cérebro e desequilíbrios químicos que podem predispor uma criança a ambas as condições.
Impacto no desenvolvimento: Para crianças com autismo, a presença de epilepsia pode complicar ainda mais o quadro clínico e afetar o desenvolvimento cognitivo, emocional e comportamental. Convulsões frequentes podem interferir na aprendizagem, na comunicação e nas habilidades sociais, tornando o manejo do autismo mais desafiador.
Desafios de diagnóstico: Identificar a epilepsia em crianças com autismo pode ser especialmente desafiador, uma vez que os sintomas de ambas as condições podem se sobrepor. Comportamentos como movimentos estereotipados ou dificuldades de comunicação podem ser erroneamente atribuídos ao autismo, quando, na verdade são manifestações de convulsões epilépticas.
Abordagens de tratamento: O manejo do autismo e da epilepsia em conjunto requer uma abordagem multidisciplinar e personalizada. Isso pode incluir a combinação de terapias comportamentais, terapias ocupacionais e fonoaudiologia para o autismo, juntamente com medicação antiepiléptica e monitoramento cuidadoso das convulsões.
Importância do acompanhamento médico: Para pais de crianças com autismo, é crucial estar atento a sinais de possível epilepsia, como convulsões, períodos de ausência ou comportamentos incomuns. Consultar um neurologista pediátrico especializado em epilepsia pode ajudar a confirmar o diagnóstico e desenvolver um plano de tratamento adequado.
Autismo, epilepsia e os seus desafios
Embora a relação entre o autismo e a epilepsia possa apresentar desafios significativos, é importante lembrar que cada criança é única e pode responder de maneira diferente ao tratamento. Com intervenção precoce, apoio adequado e uma abordagem holística para o manejo dessas condições, muitas crianças com autismo e epilepsia podem alcançar um desenvolvimento saudável e uma melhor qualidade de vida.
Para pais que enfrentam essa jornada, é fundamental buscar apoio e recursos adequados, incluindo grupos de apoio, terapeutas especializados e educação contínua sobre as últimas pesquisas e intervenções. Com compreensão, paciência e cuidado dedicado, é possível enfrentar os desafios do autismo e da epilepsia e ajudar as crianças a florescerem em seu próprio caminho único.
Se você suspeita que seu filho possa ter autismo ou desenvolver epilepsia, é importante procurar orientação médica imediata. Procure pelos serviços de saúde aos quais você tem acesso, anote suas dúvidas e angústias para que um profissional que conheça o seu filho de perto, possa te orientar de maneira personalizada. Um diagnóstico precoce e um plano de tratamento adequado podem fazer toda a diferença no manejo dessa condição complexa.
Não interprete este conteúdo como mais um item a se preocupar, mas como um cuidado a mais que você pode oferecer para a sua família, ao se informar e se preparar para situações que possam surgir.
Conte sempre comigo.
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