Nos dias de hoje, é quase impossível manter nossos filhos completamente longe das telas. Seja o tablet, o celular, a televisão ou o computador, as telas estão sempre por perto. No entanto, observo diariamente como o uso excessivo de telas na infância pode impactar negativamente o desenvolvimento das habilidades motoras finas das crianças, influenciando diretamente sua capacidade de realizar atividades importantes da rotina, como se alimentar sozinhas, manejar o material escolar ou até organizar seus brinquedos e pertences.
Quero conversar com vocês, pais e mães, sobre como o uso de telas na infância pode interferir nas habilidades motoras finas e impactar o desenvolvimento motor e social dos pequenos. Vamos entender juntos como a exposição excessiva a essas tecnologias afeta a capacidade da criança de realizar tarefas simples, incentivando uma reflexão sobre o equilíbrio necessário para que nossos filhos possam crescer de forma saudável e independente.
Como o uso de telas influencia as habilidades motoras finas
A primeira coisa que devemos entender é o que são habilidades motoras finas. Essas habilidades envolvem o controle e a coordenação dos pequenos músculos das mãos e dos dedos, fundamentais para atividades como abrir uma garrafa, cortar papel com uma tesoura, escovar os cabelos, colocar peças pequenas em um jogo de construção ou até mesmo escrever.
O uso excessivo de telas na infância afeta essas habilidades motoras finas de diferentes maneiras. Primeiramente, quando uma criança passa horas tocando uma tela, ela limita o tempo que poderia estar explorando atividades que estimulam o desenvolvimento motor, como brincar com argila, pintar com pincéis, manusear peças de quebra-cabeças ou até fechar o zíper da mochila escolar. A ausência dessas experiências afeta negativamente o fortalecimento e a agilidade de movimentos das mãos e dos dedos, que são essenciais para que a criança desenvolva a habilidade e a confiança para executar atividades do dia a dia.
Acredito que o equilíbrio é sempre o caminho. Com orientação adequada, as telas podem ter um papel educativo e interativo. No entanto, é fundamental que esse uso seja moderado, e que existam espaços no dia para que a criança realize atividades que envolvam habilidades motoras finas e movimentos mais ativos.
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Menos telas, mais experiências sensoriais
Quando uma criança passa muito tempo em atividades passivas, como ver vídeos ou jogar em dispositivos, ela perde a oportunidade de experimentar a variedade sensorial que atividades físicas proporcionam. Para que uma criança desenvolva habilidades motoras finas de maneira eficaz, é necessário que ela explore texturas, pesos e movimentos variados.
Além disso, atividades que envolvem coordenação motora, como colocar peças em jogos de encaixe, espetar uma massinha com pequenos objetos, empilhar blocos ou passar objetos de uma mão para outra, fornecem uma rica variedade de estímulos sensoriais essenciais para que o cérebro e o corpo se sincronizem. Quando uma criança está em contato com a tela, ela recebe um estímulo visual e auditivo, mas perde a oportunidade de experimentar sensações táteis e proprioceptivas (sensações que permitem ao corpo perceber a sua posição, orientação, localização e movimento no espaço, sem a utilização da visão), importantes para o desenvolvimento das habilidades motoras finas.
Como o tempo de tela impacta a força e o controle das mãos e dos dedos
Outro aspecto que precisa ser considerado é a força. Quando uma criança interage constantemente com telas na infância, os movimentos repetitivos de deslizar o dedo sobre a tela, em vez de, por exemplo, apertar uma esponja para lavar seus brinquedos, não oferecem resistência ou desafios. Sem atividades que exijam força e pressão, os músculos das mãos não se desenvolvem adequadamente, e a criança pode ter dificuldade para segurar um lápis de forma correta, abrir um potinho de iogurte ou até ajustar a tampa de uma garrafa.
Esses pequenos exercícios são fundamentais para o controle e a agilidade das mãos, habilidades que impactam diretamente na autonomia das crianças. Como terapeuta ocupacional, eu trabalho para que a criança seja capaz de realizar todas essas tarefas de maneira independente, e sei que fortalecer as mãos e os dedos através de atividades motoras ativas e variadas é uma peça-chave para esse objetivo.
A importância de interagir com objetos reais no desenvolvimento das habilidades motoras finas
No dia a dia, as crianças aprendem muito através de experiências com objetos reais, que exigem habilidades motoras complexas e envolvem um processo mais completo de descoberta e aprendizado. Diferente das telas, onde tudo acontece de maneira quase automática, brincar com objetos exige planejamento e interação com o ambiente de forma prática.
Por exemplo, empilhar peças, prender botões e zíperes, montar brinquedos que exigem encaixe ou até mesmo fazer um desenho com giz de cera são atividades que ajudam a desenvolver a precisão dos movimentos, o controle das mãos e a coordenação entre os olhos e as mãos. São habilidades que, ao longo do tempo, vão garantir que a criança realize tarefas com mais autonomia e confiança.
Além disso, quando uma criança usa suas mãos para organizar objetos pequenos, desmontar peças de encaixe ou experimentar diferentes formatos e texturas em atividades de vida prática, ela está adquirindo habilidades que serão extremamente úteis para o desempenho escolar e para sua independência em atividades cotidianas.
Tempo de tela e a perda do contato com o mundo real
Nos atendimentos, uma das questões que frequentemente observo é que crianças que passam mais tempo em telas na infância acabam se desconectando das interações com o ambiente real. Como resultado, perdem a oportunidade de explorar movimentos que, normalmente, desenvolveriam suas habilidades de forma mais natural.
Esse contato com o mundo real é fundamental para o desenvolvimento de habilidades motoras finas. O uso de telas acaba sendo uma atividade muito limitada, onde a criança interage com uma superfície plana e repetitiva. Na terapia ocupacional, minha abordagem sempre inclui atividades práticas, como ajudar a arrumar a mesa, organizar as prateleiras de brinquedos, plantar pequenas mudas em um jardim ou até mesmo fazer pequenos lanches, pois são experiências que exigem controle motor, planejamento e uma resposta adaptativa ao ambiente.
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Atividades simples para desenvolver habilidades motoras finas
Para ajudar as crianças a desenvolver suas habilidades motoras finas, eu sempre recomendo atividades práticas e lúdicas que possam ser facilmente incluídas na rotina diária. Aqui estão algumas sugestões que podem ajudar:
- Brincar com massa de modelar: amassar, apertar e moldar ajuda a fortalecer os músculos das mãos e dos dedos.
- Montar quebra-cabeças pequenos: ótimo para coordenação olho-mão e habilidades de pinça.
- Colocar prendedores de roupa em tecidos: uma atividade que exige força e precisão dos dedos.
- Colocar contas em um cordão: ajuda a melhorar a precisão dos movimentos e a coordenação.
- Usar pinças ou pegadores para transferir objetos pequenos de um recipiente para outro: esse tipo de atividade trabalha o controle motor fino e é ótimo para o fortalecimento das mãos.
- Passar as páginas de um livro a cada uma: parece simples, mas ajuda na coordenação e no controle motor.
- Desenhar com giz, pincel ou até mesmo com os dedos na areia: além de divertido, é uma ótima forma de trabalhar habilidades de preensão (capacidades de segurar objetos) e coordenação.
- Brincar com jogos de encaixe que exigem que a criança coloque e remova peças de tamanhos variados.
Essas atividades simples promovem o desenvolvimento das habilidades motoras finas de forma natural, proporcionando à criança a experiência tátil e a possibilidade de experimentar diferentes texturas, pesos e formas.
O papel da TO na promoção do equilíbrio de uso de telas
Na prática, o papel da terapia ocupacional infantil é ajudar as crianças a desenvolver as habilidades necessárias para a independência nas atividades cotidianas, sempre buscando um equilíbrio entre os estímulos que elas recebem. Quando há um uso excessivo de telas na infância, eu trabalho junto com as famílias para criar uma rotina mais saudável, onde as telas têm um papel limitado e as atividades motoras ganham espaço e valor.
Através de atividades lúdicas e funcionais, estimulo a criança a desenvolver suas habilidades motoras finas, de forma que possa fechar o cadarço dos tênis, desenhar com mais precisão, cortar o próprio alimento e realizar outras atividades do cotidiano de forma autônoma. A integração dessas atividades na rotina não só melhora o desempenho motor, mas também favorece a autoestima e a confiança das crianças em si mesmas.
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Repensando o uso das telas na infância
As telas fazem parte do nosso mundo e, inevitavelmente, também fazem parte do mundo das nossas crianças. Mas, como vimos, o uso excessivo de telas na infância pode interferir negativamente nas habilidades motoras finas, dificultando o desenvolvimento de habilidades fundamentais para a vida diária e autonomia.
Nosso papel, como pais, cuidadores e profissionais da saúde, é criar um ambiente que ofereça às crianças a possibilidade de desenvolver suas habilidades motoras e cognitivas de forma completa. É um processo que exige atenção, mas que, sem dúvida, trará resultados positivos a longo prazo.
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Habilidades Motoras na Rotina das Crianças
