Comunicação Não Verbal: Como as Crianças Expressam Sentimentos Antes de Falar

A comunicação é a base das interações humanas, e para as crianças, essa habilidade começa a ser desenvolvida muito antes da fala. Logo nos primeiros meses de vida a comunicação não verbal pode ser percebida na expressão de sentimentos, pensamentos e intenções por meio de gestos, expressões faciais, postura, contato visual e outros sinais físicos, sem o uso de palavras.

Crianças, tanto típicas quanto atípicas, utilizam comunicação não verbal porque é uma forma natural de expressar emoções, necessidades e intenções, especialmente quando a fala ainda está em desenvolvimento ou comprometida. Isso permite que se comuniquem, facilitando a interação com o ambiente e as pessoas ao redor. No entanto, é fácil subestimar o poder da comunicação não verbal nas fases iniciais do desenvolvimento infantil.

Para mim, como terapeuta ocupacional infantil, compreender e intervir nesses momentos é fundamental para ajudar a criança a expressar seus sentimentos, desejos e necessidades. É importante ressaltar que o foco da terapia ocupacional vai muito além das palavras; meu papel está em promover a independência e autonomia na atividades diárias do presente e que farão parte do futuro dessa criança.

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A Comunicação Não Verbal no Desenvolvimento Infantil

Desde o nascimento, as crianças usam sinais não verbais para interagir com o mundo ao seu redor. O choro, os gestos, as expressões faciais e o contato visual são maneiras pelas quais os bebês começam a se comunicar com seus cuidadores. Gradualmente, à medida que crescem, essas formas de comunicação se expandem, abrangendo gestos mais complexos, como apontar, acenar e o uso de objetos para transmitir mensagens.

A comunicação não verbal está associada ao desenvolvimento emocional e social da criança. Ela é uma forma natural de expressão, permitindo que a criança se conecte com outras pessoas antes mesmo de dominar a fala. No entanto, em alguns casos, a dificuldade em expressar-se verbalmente pode se estender além da fase pré-linguística. Crianças com atrasos no desenvolvimento da linguagem, transtornos do espectro autista (TEA), ou deficiência intelectual podem depender de formas alternativas de comunicação por mais tempo.

Nesse contexto, a intervenção da terapia ocupacional se torna fundamental. Através da observação e compreensão da comunicação não verbal, podemos ajudar essas crianças a aprimorar suas habilidades e, eventualmente, apoiar a transição para a comunicação verbal.

Como a Terapia Ocupacional Infantil Acompanha a Comunicação Não Verbal

A terapia ocupacional infantil tem como objetivo promover o desenvolvimento global da criança, abordando não apenas a linguagem, mas também o controle motor, as habilidades sociais e a autonomia nas atividades do cotidiano. Uma área em que atuo intensamente como terapeuta ocupacional infantil é na facilitação da comunicação não verbal como uma ponte para a comunicação mais complexa. Essa abordagem é especialmente útil em crianças com transtornos que dificultam a fala.

A Expressão de Sentimentos

Alimentar-se, vestir-se e cuidar da higiene pessoal — são momentos ricos de interação e comunicação. Quando uma criança não consegue verbalizar suas preferências ou dificuldades, ela frequentemente recorre a expressões faciais, gestos e até comportamentos para demonstrar seus sentimentos.

Por exemplo, durante a hora de vestir-se, uma criança pode franzir a testa ou se afastar de uma peça de roupa que lhe causa desconforto, seja por questões sensoriais ou preferências pessoais. Aqui, o papel do terapeuta ocupacional é observar esses sinais e trabalhar junto com a criança para ajudá-la a desenvolver maneiras mais eficazes de se comunicar, seja por meio de sinais manuais, imagens ou até tecnologias assistivas, como os sistemas de comunicação por troca de figuras.

Além disso, momentos como a alimentação também são repletos de comunicação não verbal. Uma criança que rejeita certos alimentos pode expressar desconforto através de expressões faciais ou posturas corporais. Como terapeutas ocupacionais, utilizamos essas informações para ajustar as intervenções sensoriais e motoras, promovendo uma experiência alimentar mais positiva e menos frustrante para a criança.

A Rotina e a Comunicação Não Verbal

Na rotina, existem atividades com maior interação com o ambiente, como: organizar brinquedos, realizar tarefas domésticas simples ou participar de atividades escolares. Nesses contextos, as crianças estão constantemente se comunicando, mesmo sem palavras.

Uma criança que evita determinadas tarefas, como amarrar os sapatos ou segurar certos utensílios, pode estar comunicando desconforto físico ou falta de habilidade. Aqui, o papel do terapeuta ocupacional é fundamental. Nossa atuação envolve não apenas a observação desses sinais, mas também a criação de estratégias adaptativas para que a criança se sinta confortável e confiante para realizar as atividades. Podemos sugerir o uso de ferramentas adaptadas ou até modificar a tarefa para que ela se torne mais acessível.

Em termos de integração sensorial, muitas vezes encontramos crianças que têm dificuldades em processar estímulos táteis ou visuais, o que pode se refletir em comportamentos não verbais, como evitar tocar certos materiais ou desviar o olhar. Nesses casos, trabalhamos para reduzir a sobrecarga sensorial e, ao mesmo tempo, encorajar a criança a se comunicar de maneira mais eficaz, seja apontando ou gesticulando, o que facilita a compreensão de suas necessidades.

5 Atividades da Terapia Ocupacional Infantil em Sessão

Sistema de Comunicação por Troca de Figuras (PECS)

O Sistema de Comunicação por Troca de Figuras (PECS) é uma ferramenta que os terapeutas ocupacionais infantis podem utilizar para apoiar crianças que enfrentam desafios na comunicação verbal. O PECS é baseado no uso de imagens e símbolos, permitindo que a criança se comunique de forma eficaz sem depender da fala.

O sistema é composto por várias fases e ensina a criança, inicialmente, a trocar uma figura por um objeto ou ação desejada. Com o tempo, essa abordagem se torna mais complexa, permitindo à criança construir sentenças e até mesmo expressar sentimentos e desejos.

Esse método é especialmente útil para crianças com transtorno do espectro autista (TEA) ou outras dificuldades de comunicação. Os terapeutas podem incorporar o PECS na rotina da criança, durante as refeições ou ao escolher roupas, permitindo que a criança tenha maior autonomia e capacidade de expressão em momentos fundamentais do seu dia a dia. O PECS não apenas facilita a comunicação, mas também reduz a frustração da criança e promove um ambiente de interação mais inclusivo.

Integração Sensorial e Comunicação Não Verbal

Integração sensorial é o processo pelo qual o cérebro organiza e interpreta estímulos sensoriais (como visão, audição, toque, olfato e movimento) para que a criança possa responder de forma adequada às demandas do ambiente. No desenvolvimento infantil, é essencial para habilidades motoras, sociais e cognitivas, influenciando o aprendizado e o comportamento.

A integração sensorial é um dos pilares da terapia ocupacional infantil, especialmente quando se trata de comunicação não verbal. Crianças com dificuldades de processamento sensorial podem ter respostas exageradas ou diminuídas a estímulos do ambiente, o que afeta diretamente sua capacidade de se comunicar.

Por exemplo, uma criança que se sente sobrecarregada por sons altos pode cobrir os ouvidos ou fugir da situação, demonstrando, por meio de gestos, que aquele ambiente é desconfortável. Da mesma forma, crianças que têm aversão a certos tipos de toque podem evitar roupas específicas ou demonstrar descontentamento ao serem tocadas. Esses são exemplos claros de comunicação não verbal relacionada à integração sensorial, e é papel do terapeuta ocupacional trabalhar nessas áreas para ajudar a criança a se adaptar melhor ao seu ambiente.

O que você não pode deixar de dizer ao seu Terapeuta Ocupacional, durante a sessão

A Relação com os Cuidadores

No processo de terapia da criança é essencial que os pais e cuidadores compreendam a importância da comunicação não verbal e saibam como responder a ela de maneira eficaz. Frequentemente, realizo sessões de orientação com as famílias, ensinando-as a interpretar os sinais da criança e a utilizar estratégias que incentivem uma comunicação mais clara.

Por exemplo, ensinar os pais a identificar quando a criança está demonstrando sinais de estresse ou desconforto pode evitar situações de frustração tanto para a criança quanto para a família. Além disso, fornecer aos pais ferramentas de comunicação alternativa, como cartões de imagens ou gestos, pode facilitar as interações cotidianas e melhorar a qualidade de vida da criança.

Tecnologias Assistivas como Aliadas na Comunicação Não Verbal

Em alguns casos, especialmente com crianças que enfrentam desafios motores ou cognitivos, a fala pode demorar a se desenvolver ou até mesmo não ocorrer de maneira funcional. Nesses casos, a terapia ocupacional infantil recorre ao uso de tecnologias assistivas para ajudar na comunicação.

Dispositivos de comunicação alternativa, como tablets com aplicativos de comunicação ou pranchas de símbolos, podem ser usados para que a criança consiga expressar suas vontades e necessidades de maneira mais eficaz. Esses recursos são integrados às rotinas diárias da criança, seja na escola ou em casa, permitindo que ela tenha uma participação mais ativa nas atividades.

Comunicação Não Verbal e o Desenvolvimento Infantil

A comunicação não verbal é uma parte essencial do desenvolvimento infantil, especialmente nas fases iniciais da vida. Para muitas crianças, essa é a principal forma de se expressar antes do desenvolvimento da fala. Como terapeuta ocupacional infantil, meu papel é garantir que essas formas de comunicação sejam compreendidas e valorizadas, criando um ambiente onde a criança possa se desenvolver plenamente, mesmo sem o uso das palavras.

Através da análise das necessidades ocupacionais da criança ou seja, das suas atividades do dia a dia que lhe garantem autonomia, ajudamos a criança a encontrar maneiras alternativas de expressar suas emoções e necessidades, promovendo sua autonomia e bem-estar. Ao mesmo tempo, trabalhamos em parceria com as famílias e escolas para garantir que todos compreendam e apoiem essa forma de comunicação. Dessa maneira, a criança encontra uma voz que vai além das palavras, tornando-se capaz de interagir de forma significativa com o mundo ao seu redor.

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Beatriz Bell – Terapeuta Ocupacional © Todos os Direitos Reservados 2023.

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