Em crianças com autismo ou com TDAH, é muito comum que se manifeste o tal do hiperfoco, tão falado e superficialmente conhecido; aliás, o hiperfoco é uma das características mais comuns das pessoas com autismo.
Geralmente, esse comportamento se manifesta desde os primeiros anos de vida e é visto por muitos como um benefício por acreditarem tratar-se de uma “criança gênio” ou superdotada. Mas será que é isso mesmo?
O que é hiperfoco no autismo?
O autismo é uma condição neurodivergente que se manifesta de maneiras diversas em cada criança, e uma das características intrigantes é o fenômeno conhecido como hiperfoco.
O hiperfoco é a habilidade de se concentrar intensamente, em uma imersão profunda com interesse apaixonado por um assunto específico, muitas vezes resultando em um nível de satisfação e especialização muito elevado.
O hiperfoco pode atingir um nível de concentração impressionante, impulsionando a produtividade e criatividade. Ele pode mudar ao longo do tempo ou durar a vida inteira da pessoa com autismo.
Quais são os exemplos de hiperfoco no autismo?
Não há limites para o que pode ser objeto de hiperfoco: colecionar itens, interesses por arte, música, jardinagem, animais, códigos postais, números ou até mesmo assuntos inusitados como tsunamis e astrologia. Para muitas crianças mais novas, pode ser o interesse por dinossauros ou personagens de desenhos animados específicos também.
Durante o hiperfoco, o tempo pode parecer voar. Uma hora pode parecer um minuto.
O hiperfoco no autismo é bom ou ruim?
Uma das características notáveis do hiperfoco é sua capacidade de desenvolver talentos extraordinários. O autista, quando imerso em seu campo de interesse, muitas vezes revela habilidades e conhecimentos que surpreendem até mesmo os especialistas.
Mas atenção, muitos acham o hiperfoco algo positivo, pois ele traz a conotação de genialidade. Porém, existe um lado bastante negativo que é o fato de que o hiperfoco pode atrapalhar a vida da criança com autismo e daqueles que estão a sua volta. Por vezes a criança adquire uma habilidade em excesso, mas não consegue desenvolver tarefas que irão lhe proporcionar autonomia, como se vestir sozinho, por exemplo. Portanto, esta intensidade de interesse requer um equilíbrio para garantir a participação em outras áreas da vida diária.
Quando, ao invés de ser conduzido com equilíbrio, o hiperfoco é estimulado em excesso, é possível que ocorram comportamentos disruptivos e crises comportamentais, isto quando a criança não estiver envolvida na ação relacionada ao seu hiperfoco ou mesmo se houver um rompimento da atividade relacionada. Isso significa que a transição para outras tarefas, necessárias para a rotina diária, se torna extremamente dolorosa para a criança e desafiadora para as suas famílias.
Além disso, o hiperfoco pode ser confundido pela família como uma estratégia da criança para ignorá-los, o que não é verdade. Na realidade, é comum que a característica ocupe grande parte do tempo da criança; o ideal é ajudá-la a gerenciar melhor o tempo dedicado ao objeto de interesse, mas sem estigmatizá-lo como algo negativo; ou seja, nem um extremo nem outro.
Como trabalhar o hiperfoco no autismo?
Gerenciar o hiperfoco é fundamental para equilibrar paixões com responsabilidades diárias e com as outras demandas de aprendizagem.
Sendo assim, é importante aprender a administrar o hiperfoco para não permitir que ele domine a vida da pessoa autista e das pessoas que estão a sua volta. Essa gestão do comportamento trará maior qualidade de vida e equilíbrio emocional e social para o autista.
Também é possível aproveitar essa capacidade de foco e uso do conhecimento para outras áreas da vida, fazendo alguma ligação com assuntos correlacionados.
De forma prática, coloco aqui uma lista de ações que irão contribuir para trazer mais equilíbrio neste aspecto:
- Explique para a criança o quanto você compreende a necessidade dela se envolver com o assunto determinado, que admira suas habilidades e respeita seus gostos pessoais; porém, explique que para que seja algo positivo e saudável, você irá aplicar medidas que tornem essa prática equilibrada com as obrigações diárias que todos precisam fazer.
- Faça combinados de horários estipulados, focados no assunto de hiperfoco da pessoa com autismo;
- Se o período de hiperfoco for longo, combine pausas programadas entre as tarefas, para que as interrupções não sejam abruptas demais;
- Procure evitar iniciar tarefas que levem ao hiperfoco próximo a horários em que haverá necessidade de pausa como: almoço, café da manhã e hora de dormir;
- Aproveite o assunto do hiperfoco para chamar a atenção e despertar o interesse da criança em outros assuntos, necessários para o dia a dia.
Portanto, o hiperfoco é uma característica comum em crianças com autismo ou TDAH, manifestando-se como uma intensa concentração em interesses específicos. Apesar de muitas vezes ser visto como um benefício, permitindo o desenvolvimento de talentos extraordinários, é importantíssimo encontrar um equilíbrio em sua prática.
Quando estimulado em excesso, o hiperfoco pode prejudicar a vida diária da criança e de sua família, levando a comportamentos disruptivos. Gerenciar essa intensidade de interesse é essencial para garantir a participação em outras áreas da vida, promovendo um equilíbrio emocional e social.
Confira abaixo o link da live que fiz em parceria com a psicopedagoga Erika Farinha, falando sobre esse e outros assuntos relacionados ao autismo:
Live no Instagram Autismo e TDAH
Precisa de ajuda para encontrar equilíbrio no processo de gerenciamento do hiperfoco da sua criança? Conte comigo!
Entre em contato e agende uma consulta, pois a agenda 2024 está aberta.